Em menos de um ano de operação, 118 empresas aderiram ao programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), criado para impulsionar a inovação e a nacionalização no setor automotivo. Desse total, 93 são fabricantes de autopeças, segundo dados da Becomex, número que supera o do programa anterior, o Rota 2030, que reuniu entre 60 e 70 empresas em cinco anos.
Denys Cabral, sócio da Becomex e diretor de inovação automotiva, destaca o crescimento na participação do setor e afirma que isso se deve às regras mais flexíveis do Mover, que requerem menor percentual de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas. “Os critérios do Rota 2030 não eram tão flexíveis como os do Mover. E a fabricante de autopeças não tinha como fazer os investimentos exigidos pelo governo para obter o benefício. Antes a regra era a mesma para todos, independentemente do porte ou da função da empresa do setor. Hoje não: os porcentuais são bem menores para as fornecedoras, o que propiciou esta maior participação”, explica.
Para 2025, a meta de investimento em P&D será de 0,45% para a cadeia de suprimentos e 1,2% para montadoras. No Rota 2030, a exigência inicial era de 0,7% para todas as empresas, o que restringia a entrada de pequenas e médias empresas.
Outro atrativo do Mover é a possibilidade de transferir linhas de produção de outros países, promovendo a nacionalização de componentes. Exemplos incluem a Stellantis, que transferiu uma linha de motores da Europa para Minas Gerais, e a OMR Componentes Automotivos, que trouxe linhas de produção da Itália para o Brasil. “Isso cai como uma luva à autopeça. É algo inédito. Se a empresa está com uma linha sendo descontinuada na Coreia, China, Alemanha, em qualquer parte do mundo, por causa do maior foco para o elétrico, enquanto aqui apostamos mais nos híbridos, o benefício do Mover pode incentivar a vinda desta produção para cá.”
Além disso, o Mover oferece créditos financeiros mais vantajosos para autopeças, com um “pedágio” mais baixo em comparação com o Rota 2030. Cabral explica que, “os créditos financeiros começam a ser apurados após os dispêndios com P&D ultrapassarem 0,3% da receita da empresa de caminhões, ônibus, autopeças e sistemistas e 0,6% do faturamento da fabricante de automóveis e comerciais leves”.
No entanto, algumas regulamentações ainda são aguardadas para maior clareza, como detalhes sobre tributação, eficiência energética, rotulagem veicular e emissão de CO₂, previstos para impactar o setor.
Cabral ainda ressalta a necessidade de ajustes na alocação de recursos para garantir a disponibilidade de verbas a todas as empresas participantes. Caso uma empresa solicite mais verba do que realmente precisa, outras podem ser prejudicadas pela falta de fundos. “Se, em dezembro, foram solicitados R$ 10 milhões, mas até março apenas R$ 5 milhões foram usados, quem ficou sem será prejudicado. Trata-se, portanto, de algo que precisa ser melhor pensado.”
Esses pontos precisam ser aprimorados para garantir o avanço do programa e o cumprimento de suas metas de inovação e sustentabilidade.