“Eu não aguentava mais apanhar. Foram 15 anos apanhando, até que, na pandemia, ele me deu uma surra e jogou álcool no meu corpo para me queimar.”
O relato forte e comovente ecoou durante uma roda de conversa entre alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Jeanete Beauchamp.
Poderia ter ficado apenas ali, entre expressões de solidariedade e silêncio, mas não. Tocadas pela história, a turma decidiu transformar a dor em reflexão e ação, escolhendo o tema “Vozes silenciadas: combatendo a violência contra a mulher” como base para seu projeto, apresentado no III Encontro de Projetos da EJA, promovido pela Prefeitura de Mauá, por meio da Secretaria de Educação, no Ginásio Celso Daniel.
Assim como essa turma, outras escolas também optaram por discutir a violência contra a mulher, fruto de conversas e trocas realizadas em sala de aula.
Ao todo, 12 escolas e 297 alunos participaram do evento, que contou não apenas com a exposição dos trabalhos, mas também com apresentações musicais, teatrais e outras expressões artísticas.
Entre os diversos projetos, um dos destaques foi o da Escola Municipal Cora Coralina, que apresentou o tema “Nunca é tarde – a educação como caminho para a realização de sonhos”.
Em um livro coletivo, os 22 alunos da turma relataram a emoção e o orgulho de terem conquistado a alfabetização, descrevendo como a leitura e a escrita transformaram suas vidas.
“Eles quiseram mostrar seus maiores sonhos, e a grande maioria disse que era ser alfabetizado, poder ler uma Bíblia, pegar um ônibus sem depender de ninguém. Mesmo já experientes, trabalhando, uns até aposentados, com famílias constituídas, sentiam que faltava algo, e conquistaram isso graças à EJA. Por isso decidiram exaltar esse aprendizado”, explicou a professora Andreia Carpena.
O prefeito Marcelo Oliveira participou do evento e se emocionou com o que viu.
“Que alegria ver a EJA fortalecida e impactando vidas. Esse projeto é uma via de mão dupla: todos ensinam e todos aprendem. É uma troca de experiências sem igual. Estamos trabalhando muito para fortalecer cada vez mais a educação da nossa cidade, desde os primeiros anos até o ensino de Jovens e Adultos. Espalhem essa mensagem, falem desse projeto. Quanto mais combatermos o analfabetismo, mais dignidade teremos em nossa população”, destacou.
O secretário de Educação, Gilmar Silvério, também exaltou os estudantes e o conteúdo apresentado.
“A Educação de Jovens e Adultos mostra que não é apenas aprender a ler e escrever. É ampliar a percepção de mundo. É a soma do que vocês já sabiam com o que estão aprendendo agora. Isso é o que nos mantém vivos. Vocês são exemplo de que a vida não tem fim, ela tem recomeços”, afirmou.
Atualmente, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Mauá atende 511 alunos, sendo 441 na EJA e 70 no Programa Brasil Alfabetizado (PBA). As aulas da EJA ocorrem em 12 escolas municipais, e do PBA em cinco pontos.
Para se matricular, o interessado deve ter 15 anos ou mais e comparecer a um dos polos onde os programas funcionam (lista disponível em http://abre.ai/eja-pba), levando RG, CPF, comprovante de residência e, se possível, histórico escolar.
Quem não tiver o documento poderá realizar uma prova de classificação para definir a etapa adequada.
As aulas da EJA acontecem no período noturno (com uma turma matinal na Escola Municipal Clarice Lispector) e os horários do PBA variam conforme a unidade. As inscrições são permanentes, podendo ser feitas a qualquer momento.







