Era para ser apenas um passeio na casa da bisavó, quando a pequena Luísa, de dois meses, se engasgou após tomar um remédio. Desesperada, a mãe do bebê, Letícia Rosa, ligou para o 190 — telefone de emergência da Polícia Militar — enquanto tentava desengasgar a filha. Vizinhos e alguns parentes que viram a cena se aproximaram para tentar ajudar.
Assim que a ligação caiu no Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), uma viatura foi despachada até o endereço da família, no Jardim Capitólio, em Leme, no interior paulista. O chamado de emergência foi recebido pelos cabos Willian Iaderoza e Gabriel Barros, da 4ª Companhia do 36º Batalhão de Polícia Militar do Interior, que estavam em patrulhamento e se deslocaram até o local.
“Eu sou pai de uma menina de um ano e o meu colega de farda tem uma filha com o mesmo nome da Luísa. Não tem como não se emocionar com um salvamento desses”, disse o cabo Iaderoza.
O policial, que também é técnico de enfermagem, fez a manobra de desengasgo na recém-nascida, que começou a expelir o líquido pelo nariz e pela boca. Ela foi levada com a mãe até a Santa Casa da cidade para realizar exames médicos, onde obteve alta no mesmo dia. Apesar do susto, a rapidez e a agilidade dos policiais foram fundamentais para um final feliz.

“Eles chegaram em menos de cinco minutos. Se não fossem eles, poderia ter acontecido algo muito pior”, disse a mãe de Luísa. “Vocês foram anjos enviados para salvar a minha princesa. Não tenho nem palavras para agradecer todo empenho e dedicação. Minha gratidão é eterna!”, agradeceu.
Mesmo após o atendimento, os policiais voltaram duas vezes ao centro médico para verificar se estava tudo bem com a criança. Em uma das visitas, receberam o agradecimento dos pais e puderam registrar o momento com os familiares e toda a equipe médica.
Mais de mil salvamentos
Chamados dessa natureza são comuns no Copom e no Centro de Operações do Corpo de Bombeiros (Cobom). Somente em 2024, as equipes atenderam 1,2 mil ocorrências de desengasgos de bebês e crianças em todo o estado de São Paulo, por meio dos números de emergência 190 e 193.
“São números impressionantes que demonstram a confiança da população no trabalho da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Eles são verdadeiros heróis”, disse o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. O dado mostra que, em média, três bebês ou crianças foram salvos por dia em ocorrências de desengasgo no estado.

Na comparação com 2023, que registrou 760 ocorrências no período, houve um aumento de 57% no número de ligações. Só nos dois primeiros meses deste ano, 188 solicitações foram atendidas. O caso da Luísa aconteceu em 25 de março. Mesmo após a data, a mãe comentou que a bebê já sofreu outros engasgos, mas sempre sabe a quem recorrer quando acontece.
“Quando meu marido está aqui ele resolve, mas quando estou sozinha, sempre ligo para o 190. Confio muito no trabalho da PM. Eu até brinco que eles devem estar cansados de vir até aqui”, disse a mãe.
Desengasgo por telefone
Alguns desengasgos são realizados durante a ligação pelos próprios pais da criança apenas com a orientação dos policiais, que são capacitados em treinamentos no Copom e no Cobom para auxiliar as vítimas, o que abrange recém-nascidos e até adultos.

Além de manter a calma, o ideal é que enquanto uma pessoa recebe a orientação do policial, a outra realize os procedimentos. O capitão Raphael Brito, do Corpo de Bombeiros, dá dicas sobre o que fazer caso esteja sozinho ou enquanto aguarda a chegada do socorro:
1 – Coloque a criança no seu antebraço com o tórax para baixo e fique com a mão segurando seu queixo. Depois estenda o pescoço do bebê para tentar desobstruir as vias aéreas;
2 – Com a cabeça virada para baixo, dê cinco tapas nas costas do bebê fazendo um movimento para baixo e para frente. “Não tenha medo de machucá-lo nesse momento porque o tapa precisa ser firme para retirar o objeto ou fluido”, explicou;
3 – Após realizar os tapas, vire à criança e observe se o que causava o engasgo foi expelido. Com os dedos, faça o movimento de pinça, e tente desobstruir as vias aéreas com cuidado para não empurrar o objeto ou fluido ainda mais para o fundo da garganta;
4 – Se a criança ainda não estiver respirando, coloque dois dedos entre seus mamilos e faça cinco compressões;
5 – Se a criança não voltar a respirar, repita os passos.