Fundação Santo André é uma boa universidade? Essa pergunta aparece em praticamente todo grupo de vestibulandos do ABC. Quem cresceu na região conhece alguém que estudou lá, ouviu histórias da época das grandes turmas, lembra das notícias sobre crises e, ao mesmo tempo, vê campanhas recentes falando em nota máxima no MEC e foco em empregabilidade. Fica a dúvida: afinal, vale a pena investir numa graduação na FSA?
A Fundação Santo André é hoje um centro universitário com mais de seis décadas de atuação, mais de 4 mil alunos matriculados e um histórico que passa dos 100 mil formados. Foi a primeira instituição de ensino superior de Santo André e ajudou a formar parte importante do quadro técnico e de gestão que sustentou o desenvolvimento industrial do ABC. Essa tradição pesa bastante na escolha de quem quer estudar sem sair da região.
Mas tradição, sozinha, não responde à pergunta se ela é ou não uma “boa” universidade hoje. Para isso, vale olhar para o que dizem o MEC, os rankings de cursos, a estrutura oferecida e a relação da instituição com o mercado de trabalho.
O que os indicadores do MEC mostram sobre a FSA
O Ministério da Educação avalia as instituições de ensino superior com uma bateria de indicadores. Há o Conceito Institucional (CI) – que olha para a instituição inteira –, o CI-EaD – voltado à educação a distância –, o IGC – índice geral de cursos, que sintetiza o desempenho de graduação e pós –, além de notas ligadas ao Enade e ao Conceito de Curso. Tudo isso em uma escala que vai de 1 a 5.
Nos dados públicos mais recentes, a Fundação Santo André aparece com:
- Conceito Institucional 5, o topo da escala do MEC;
- Conceito Institucional EaD 5, em avaliação feita em 2013;
- IGC 3, numa escala que vai até 5.
Em linguagem simples: a estrutura institucional da FSA foi avaliada com a nota máxima, tanto no presencial quanto no EaD, mas o desempenho global somando todos os cursos ainda é mediano quando comparado às instituições mais bem colocadas do país. A própria Fundação, em releases e notícias, se apresenta como “centro universitário nota máxima no MEC”, apoiada justamente nesse Conceito Institucional 5.
Cursos, estrelas e laboratórios: o que o aluno encontra no campus
Além dos índices do MEC, muita gente hoje consulta o Guia da Faculdade do Estadão antes de escolher onde estudar. O guia reúne avaliações de milhares de professores e coordenadores, que atribuem uma nota de 1 a 5 para cada curso, depois convertida em estrelas. Corpo docente, projeto pedagógico e infraestrutura entram na conta.
Na edição de 2024, os cursos da Fundação Santo André somaram 56 estrelas. Pedagogia, Psicologia, Direito, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Administração, Engenharia Mecânica e Engenharia Civil aparecem com 4 estrelas, enquanto Engenharias ligadas à computação, Sistemas de Informação, Arquitetura, ADS e Marketing ficaram com 3 estrelas.
Na prática, isso indica um conjunto de cursos bem avaliados – sobretudo nas áreas mais tradicionais da casa – e outros em patamar intermediário. Não é um retrato perfeito, mas ajuda a mostrar que a FSA tem núcleos de bom desempenho, principalmente nos cursos mais consolidados.
Algumas graduações, inclusive, passaram por visita do MEC recentemente e saíram com nota 5. É o caso de Gestão da Tecnologia da Informação e de Pedagogia, que obtiveram o conceito máximo nas avaliações de curso.
Quando se fala de infraestrutura, a instituição ressalta que dispõe de mais de 100 laboratórios, abriga clínicas e núcleos de prática – Psicologia, Práticas Jurídicas, Apoio Fiscal, Empresa Júnior, Escritório Modelo, Agência de Publicidade – e mantém serviços gratuitos à comunidade. Para o aluno, isso significa a possibilidade de experimentar o cotidiano profissional ainda na graduação, algo que costuma pesar bastante em cursos de saúde, direito, engenharia e comunicação.
Quem dá aula na Fundação Santo André
Para ser centro universitário, a instituição precisa ter uma proporção relevante de mestres e doutores no quadro docente. Documentos da própria FSA mostram que, em meados de 2017, havia mais de 100 professores doutores e mais de 130 mestres, além de um número menor de especialistas e graduados.
Perfis institucionais recentes em redes profissionais reforçam a mensagem de que mais de 70% dos docentes têm título de mestre ou doutor. A Fundação também costuma enfatizar que os professores ingressam via concurso e que a titulação é um ponto importante na política de pessoal.
Isso não significa que todos os cursos tenham o mesmo nível de qualificação ou dedicação docente, mas aponta para um quadro geral alinhado ao que o MEC exige de um centro universitário e compatível com o que se encontra em instituições privadas de porte semelhante.
Empregabilidade: ações concretas, mas poucos números específicos
Quando o assunto é empregabilidade, a Fundação Santo André vem se movendo nos últimos anos para marcar posição. Em 2025, o centro universitário recebeu o selo Boas Práticas na Educação de Carreiras, no Prêmio Educação e Empregabilidade, organizado pela Workalove e pelo Semesp. O reconhecimento leva em conta iniciativas de orientação vocacional, integração com empresas e inclusão de competências profissionais na formação.
A FSA também criou um programa chamado “Competências para Empregabilidade”, em parceria com a Fundação Wadhwani, que envolve ao menos 200 alunos em uma trilha de 40 horas dedicada a habilidades socioemocionais e profissionais em alta demanda. Fora isso, a instituição mantém ações como Semana de Talentos, Fórum de Empregabilidade e ciclos de palestras voltados para carreira e mercado de trabalho.
Nos textos em que fala de empregabilidade, a FSA usa dados nacionais – como pesquisas da Abmes e do S emesp – para lembrar que áreas como TI, engenharia, saúde e direito lideram as taxas de inserção profissional no Brasil.
O passado recente de crise ainda pesa?
Quem acompanha notícias da região sabe que a Fundação Santo André viveu um período bastante turbulento na segunda metade da década passada. Reportagens de veículos locais registraram atrasos de salários e 13º, argumentos da instituição sobre queda de matrículas e dificuldades de caixa, além de greves de docentes e funcionários.
Em 2019, textos do Diário do Grande ABC descreviam um cenário de salas fechadas, corredores vazios e queda acentuada no número de estudantes, com estimativa de que o total de alunos tivesse recuado de 12 mil para perto de 3 mil. No fim de 2018, a demissão de 35 professores, em meio a uma greve, ganhou repercussão regional e foi alvo de protestos de sindicatos e entidades ligadas à educação.
Esse histórico faz parte da memória recente da comunidade acadêmica e ainda aparece nas conversas de quem avalia a FSA. Porém, os indicadores atuais – como o Conceito Institucional 5, as 56 estrelas no Guia da Faculdade e os prêmios ligados à empregabilidade – sugerem que a instituição passou por um processo de reorganização e voltou a investir fortemente na sua qualidade acadêmica e de serviços.
Como a FSA se compara com UFABC e outras faculdades do ABC
No ABC Paulista, a régua de comparação mais direta costuma ser com a UFABC e com polos tradicionais como FEI, Mauá, FMABC e USCS.
A UFABC é uma universidade pública federal, gratuita, com forte vocação para pesquisa e pós-graduação. Em rankings internacionais, aparece entre as melhores da América Latina e lidera indicadores de excelência em pesquisa e impacto de publicações. Já a Fundação Santo André é uma fundação pública municipal, mantida pelo poder público local, mas com cobrança de mensalidades, e com foco maior em formação de graduação articulada ao mercado do ABC.
Enquanto a UFABC costuma ser a melhor escolha para quem busca uma carreira de pesquisador, projetos de alta densidade científica e pós-graduações competitivas, a FSA tende a atrair quem deseja formação profissional sólida, com mais flexibilidade de ingresso e forte vínculo com empresas e serviços da região.
No mesmo “tabuleiro” entram instituições como FEI e Mauá, muito fortes em engenharia, e a FMABC, que se destaca em saúde, com cursos de Medicina e Enfermagem que alcançaram nota máxima no Enade. Em termos de ranking nacional, essas instituições, em geral, costumam aparecer acima da FSA em indicadores como o IGC.
Vale ou não vale a pena estudar na Fundação Santo André?
Colocando tudo na balança, dá para dizer que a Fundação Santo André é, sim, uma boa universidade para graduação, especialmente em áreas nas quais acumula tradição regional e boas avaliações externas. Entre os pontos positivos estão:
- Conceito Institucional e CI-EaD na nota máxima 5;
- um conjunto de cursos bem avaliados no Guia da Faculdade do Estadão, somando 56 estrelas;
- alguns cursos com conceito 5 no MEC;
- corpo docente majoritariamente titulado, com mestres e doutores;
- infraestrutura de laboratórios e núcleos de prática, importante para quem precisa de vivência profissional;
- foco declarado e reconhecido em empregabilidade, com selo de boas práticas e parcerias específicas.
Do outro lado, pesam o IGC 3, o histórico recente de crise financeira, greves e demissões – que ainda influencia a percepção de parte da sociedade –, e o fato de a instituição não ter a mesma musculatura de pesquisa que uma universidade federal como a UFABC ou centros de excelência como FEI e Mauá.
No fim, a decisão passa por três perguntas práticas:
- O curso que você quer na FSA é bem avaliado?
Cheque as notas no MEC, no Enade e no Guia da Faculdade, além de conversar com alunos atuais. - O que você busca a longo prazo?
Se a meta é pesquisa de ponta, talvez UFABC ou outra universidade com forte tradição acadêmica faça mais sentido. Se a ideia é entrar ou se reposicionar mais rápido no mercado regional, a FSA pode encaixar melhor. - As condições cabem na sua realidade?
Analise mensalidades, bolsas (a Fundação oferece programas próprios e Cebas), deslocamento até o campus na Vila Príncipe de Gales e possibilidade de conciliar com trabalho.
Respondidas essas questões, fica mais fácil enxergar se, para o seu caso específico, a frase “a Fundação Santo André é uma boa universidade” deixa de ser uma dúvida genérica e vira uma escolha consciente.





