“Eu tinha um diploma de exatas da maior universidade do País nas mãos e minha mãe queria que eu fosse para uma multinacional. Mas o que eu queria era ser professora.” É assim que a mestre em matemática aplicada Janaína Perez Marques de Azevedo conta como começou a sua carreira no magistério. Aluna da educação infantil na rede municipal de Diadema no ano de 1981, ela cursou toda sua vida escolar em unidades públicas de ensino e se formou em matemática na Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, está na equipe de formação da Secretaria de Educação de Diadema, ajudando outros professores do ensino fundamental a melhorar suas práticas.
Primeira na sua geração familiar a concluir o ensino superior, Janaína passou dois anos sem estudar em instituições formais, mas sua aptidão por exatas e facilidade em ensinar os colegas a levou a dar aulas voluntárias no centro kardecista que frequentava. “Aos domingos a gente se reunia em uma sala e um colega e eu dávamos aulas. Também assistia um programa de TV para vestibulandos e foi assim que fui aprovada na USP”, relembrou.
Quando se viu entre os estudantes da maior universidade do País, em um grupo minoritário de jovens oriundos de escola pública, Janaína se dedicou muito e foi um dos três melhores alunos a se formar, recebendo uma menção honrosa da instituição. Com diploma nas mãos, passou um curto período dando aula em escola particular, mas logo ingressou como professora contratada para dar aulas de física em uma escola estadual, na mesma unidade escolar onde cursou o ensino fundamental. “Havia alunos com muita defasagem, então uma vez por semana, eu dava aulas voluntárias, não remuneradas, para ajudá-los a compreender o conteúdo. Eu tive alguém que me incentivou e cheguei na USP, então posso incentivá-los também”, completou.
APOIO E INCENTIVO
O incentivo, conta Janaína, veio do irmão, que foi quem a convenceu a estudar o ensino médico em uma escola técnica estadual, e de uma professora de ciências, de quem se lembra com saudade. “A professora Cléria era diferenciada e com certeza ela me incentivou e inspirou”, afirmou. A professora destacou que, enquanto esteve em sala de aula, lecionou em áreas carentes da cidade e que conviver com essas dificuldades também impacta na sua forma de dar aula. “Quando a gente sabe o que os estudantes passam e um adulto da EJA nos conta que foi aprovado na faculdade, um adolescente consegue ingressar em uma escola técnica, é uma grande realização.”
Janaína é professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de ensino fundamental. Além da formação em matemática, também é graduada em pedagogia e mestre em matemática aplicada pela USP. Atualmente, nas formações com a equipe de docentes, ela busca estratégias e metodologias diferenciadas que possam melhorar o desempenho dos professores em sala de aula, e por consequência, melhorar também o rendimento dos estudantes. “O nosso ponto de partida é a necessidade do estudante. Como ele aprende melhor? O que não está funcionando? Tendo o aluno como centro do nosso trabalho é que a gente busca as soluções”, explicou. “O professor é um mediador do conhecimento”, completou.
A docente celebra a oportunidade de estar na equipe de formação e dessa forma colaborar com o trabalho de muitos outros professores, atingindo um número ainda maior de estudantes do que quando está apenas em sala de aula. “Os estudantes são a razão da gente estar na escola. O serviço público serve a alguém e é para o munícipe que eu trabalho. Ser educador é algo de muita responsabilidade porque somos também um modelo”, afirmou. “E também estamos aprendendo, um movimento constante de troca”, concluiu.