A semana foi marcada por fortes emoções e decisões políticas nas três principais cidades do ABC: São Bernardo, Santo André e São Caetano. Isso porque na última sexta-feira encerrou-se o prazo para filiação partidária ou troca de partido dos postulantes a cargos públicos nas eleições municipais que acontecem em outubro próximo. É a conhecida janela eleitoral.
Nas três principais cidades do ABC, a expectativa era pelo lançamento do nome dos candidatos que irão disputar a sucessão dos atuais prefeitos. Isso porque Orlando Morando, de São Bernardo, Paulo Serra, de Santo André e José Auricchio Júnior, de São Caetano, não poderão estar nas urnas em outubro na corrida eleitoral.
Os três terminam em dezembro seus segundos mandatos a frente do Executivo, o que os impede de estar na disputa. Os três gozam de boa avaliação de seus governos segundo pesquisas informais, o que os tornam ótimos cabos eleitorais. E, a indicação de seus nomes não torna a eleição garantida em nenhuma cidade, mas aproxima a possibilidade dos postulantes alcançarem a cadeira mais desejada do Paço Municipal.
Especialistas políticos afirmam que após quase 8 anos de mandato, o grande desafio para um líder, no caso os prefeitos, é manter a unidade política de seu grupo. Isso porque com a impossibilidade de reeleição, novos nomes começam a despontar na disputa eleitoral.
Vereadores manifestam a vontade de deixar o Legislativo e buscar a principal vaga do Executivo. Outras lideranças da sociedade despontam. O fato pode ser comprovado pelo passado não tão distante no ABC, com rupturas de grupos políticos como o que ocorreu em 2008, em São Bernardo, e, em 2012, em São Caetano.
Santo André: “Ele não performou”, afirma o prefeito Paulo Serra sobre seu vice, Luiz Zacarias
Em Santo André, cidade administrada pelo prefeito Paulo Serra, a grande novidade ficou por conta da ruptura de seu vice-prefeito, Luiz Zacarias. O vice recentemente anunciou que será candidato a prefeito.
Com um discurso ameno, Zacarias não faz críticas ao governo de Paulo Serra, do qual ele fez parte. Deixa para o coordenador de sua campanha, o deputado federal Fernando Marangoni, do União Brasil, e seu filho, o vereador Lucas Zacarias, do Progressistas, o papel de “bater” no governo e no prefeito.
Para Zacarias seria difícil tecer críticas a um governo que ele fez parte como vice. Já para os interlocutores mais próximos, a estratégia de Marangoni é formar um novo grupo político independente do prefeito Paulo Serra com vistas a se reeleger no Congresso em 2026.
O futuro político de Paulo Serra ainda é uma incógnita, mas há a possibilidade dele vir a disputar uma vaga no Congresso Nacional em 2026, o que dificultaria na cidade e na região os votos para Marangoni.
Por outro lado, o prefeito Paulo Serra afirma que seu nome nunca esteve decidido. “Depende de como foi a atuação no governo. É preciso conhecer a cidade”, afirmou em diversas ocasiões ao ABC em OFF. Paulo Serra afirmou que o anúncio do nome de sua sucessão se dará somente a partir de maio.
A cidade comemora nesta segunda-feira (8) 471 anos e o prefeito afirma que não quer misturar política com o calendário de festejos do município. Nos bastidores é dado como certo que o prefeito já fez sua escolha por Gilvan Junior, secretário de Saúde de seu governo.
Na Festa da Fraternidade, Gilvan, homem de confiança do prefeito Serra, circulou por todas as barracas ao lado do prefeito Serra e da primeira-dama, deputada Ana Carolina.
Gilvan Junior falou com exclusividade à reportagem do ABC em OFF sobre a filiação ao PSDB e o futuro político.
Já sobre Luiz Zacarias, o prefeito afirmou em entrevista exclusiva ao ABC em OFF que, quando foi secretário de Obras em sua gestão, o vice “não performou”.
Além de Zacarias, os vereadores Edson Sardano, recém filiado ao Novo e Eduardo Leite, do PSB, se desgarraram do grupo de Paulo Serra e colocaram seus nomes na disputa eleitoral de outubro para concorrerem ao cargo de prefeito da cidade.
Zacarias cravou a pré-candidatura ao saber que não seria o escolhido. Ele trouxe o presidente estadual do PL para ratificar seu nome.
São Bernardo “Não é vaidade, é continuidade”
A grande novidade política da semana aconteceu em São Bernardo, onde o grupo aguardava a decisão do prefeito Orlando Morando sobre sua indicação na disputa pelo Paço Municipal.
Nos bastidores ventilava-se o nome do presidente da Câmara, Danilo Lima, primo do vice-prefeito Marcelo Lima.
Por outro lado, Marcelo Lima mantinha esperanças de que seu nome pudesse ser o indicado pelo prefeito Orlando Morando. Porém, a cassação do mandato de deputado federal em virtude de sua troca partidária enfraqueceu a indicação.
Orlando, ao lado de sua esposa, a deputada estadual Carla Morando e do deputado Fernando Marangoni, apresentou na última quinta-feira (4) sua indicação: trata-se da sobrinha Flávia Morando. Jovem, empresária, Flávia nunca disputou um cargo público. Ela se filiou ao União Brasil, contrariando declarações passadas de Orlando Morando de que seu indicado teria que estar filiado ao PSDB, partido do qual é filiado.
A indicação causou surpresa no grupo político e rapidamente veio a contra ofensiva: 13 vereadores da base de Orlando Morando manifestaram apoio a pré-candidatura de Marcelo Lima, que se filiou ao Podemos.
Morando justifica sua decisão afirmando que grande parte dos eleitores gostariam que sua esposa Carla Morando fosse a candidata em sua sucessão. Impedida pela Justiça Eleitoral, Carla não pode ser candidata, o que configuraria o terceiro mandato. Morando afirma que sua escolha se deu pelo fato de Flávia representar a continuidade de seu governo.
O prefeito falou ao ABC em OFF sobre a indicação.
O deputado federal Alex Manente (Cidadania) possui na largada da pré-campanha partidos como PL, PP, MDB, PSD, além da federação, que estão na base do governador Tarcísio de Freitas.
Ao que tudo indica, ele terá como vice o nome do vereador Paulo Chuchu, de relação direta com o ex-presidente Jair Bolsonaro e, consequentemente, a ala bolsonarista.
Alex avalia que formou um “bom time” nesta janela – tanto nas alianças partidárias quanto na chapa de vereadores.
Ainda em São Bernardo, outra novidade da semana foi o retorno ao cenário político do ex-prefeito e ex-deputado federal William Dib. Anunciando seu retorno ao PSB, Dib colocou ao PT a disposição de disputar na chapa do deputado Luiz Fernando, pré-candidato a prefeito da cidade, o cargo de vice.
Fora das urnas desde 2010, Dib anunciou em 2014 sua saída da política ao terminar seu mandato no Congresso Nacional. Passou por problemas de saúde, mas de certa forma sempre circulou pelos bastidores da política do ABC como uma espécie de “guru” dos políticos.
Em entrevista coletiva William Dib justificou seu retorno ao cenário político.
Se seu nome trará votos para a chapa de Luís Fernando ainda é uma incógnita saber. Mas, Dib traz uma nova musculatura política à campanha de Luís Fernando, que ainda se mantém distante nas pesquisas do também pré-candidato Alex Manente, deputado federal.
São Caetano: “A união do político com a técnica”
Em São Caetano, o prefeito José Auricchio pegou todos de surpresa ao anunciar a chapa que irá disputar as eleições de outubro. A escolha foi Tite Campanella como candidato a prefeito e a secretária de Saúde, Regina Maura, como vice. Nos bastidores políticos, a conversa era de que Auricchio não quis correr o risco que correu em 2012, quando perdeu com Regina Maura, sua indicada, a eleição para Paulo Pinheiro.
Embora Regina Maura tenha se destacado como uma forte gestora, principalmente no período de pandemia onde a cidade foi reconhecida pelo ótimo desempenho no combate à crise sanitária, São Caetano é considerada uma cidade conservadora e a indicação de Regina sem a acomodação de todas as forças políticas da cidade poderia ser um problema difícil para o prefeito Auricchio administrar.
No momento do anúncio da chapa, o prefeito ressaltou a importância da união do grupo governista.
Nos bastidores políticos comenta-se que, além de político, Tite desempenhou de forma satisfatória o papel de prefeito interino durante 2021 em que Auricchio não foi empossado em virtude de uma decisão da justiça eleitoral, o que teria contribuído para a decisão de Auricchio na formação da chapa.
Tite e Regina falaram com a reportagem do ABC em OFF logo após o anúncio.
Tite Campanella fala ao ABC em OFF